A moça moradora de uma favela em área de manguezal, desprovida de moradia, saneamento, saúde pública e vítima da morte do filho, caído na maré, num gesto de rosto sereno e gentil, fala dos seus problemas, e para maior espanto, na frase que encerra seu depoimento ela diz: “mas fora isto não tenho do que reclamar”. Possivelmente não há coragem maior que esta. Ali, estampada em seu rosto espantosamente sereno.
E quanto a nós, gestores públicos, líderes comunitários, pesquisadores, religiosos, jovens, movimentos comunitários, sociedade civil organizada, pessoa comum, entre tantos outros onde estará a nossa coragem? Coragem para transformar. Será que ela existe? Sim ela existe.
Na caravana do Fórum Pacto pela Águas da Baixada Santista, muitos foram os corajosos que encontramos pelo caminho na busca de transformar a realidade socioambiental da região, que inspirados por sua coragem individual, levaram para suas instituições a coragem no coletivo. Nos encontros realizados em diferentes territórios da Baixada Santista aprendemos com experiências inspiradoras como a do Willian Scheppis, do Instituto Ecofaxina, que por meio das Ecobarreiras, quer proteger os rios, mangues, praias e devolver a dignidade das pessoas que convivem com o lixo na área estuarina de Santos; dos alunos do 7º ano da escola municipal de Itanhaém, encorajados pelos seus educadores, criaram esculturas do lixo que coletaram nas praias e se questionaram sobre a necessidade de consumir tanto plástico; da professora universitária e pesquisadora Tânia Costa que dedica sua vida para estudar os manguezais e os seus serviços que nos oferecem gratuitamente; do líder comunitário, Marquinhos Vasconcelos Jr, que divide o seu tempo entre entregas de materiais de construção, e soluções para seus vizinhos terem uma vida melhor diante de tamanho caos em uma favela sobre a maré. Entre tantos outros que estiveram conosco nesta caminhada, todos são corajosos e trabalham pela transformação.
Nestas histórias, que tem início no indivíduo, a coragem deve se fortalecer e ganhar escala, unindo pessoas e instituições, para enfrentar a crise e colocar a mudança em prática, alinhando-as com políticas públicas e fortalecendo espaços de tomada de decisão, como Comitês de Bacias por exemplo. Esse é um dos diferenciais do trabalho de Educação Ambiental do FunBEA. Fortalecer instituições, que por meio dos seus projetos e de suas diferentes visões, transformam , pessoas e territórios, e assim ganham efetividade de atuação na construção das políticas públicas locais, conectando-a com a global .
O cenário mundial não é mais o mesmo diante da pandemia na qual estamos vivendo. Ele vem nos obrigando a sairmos da zona de conforto, olharmos além dos muros e pensarmos:
Como é que de fato podemos transformar? Como reinventarmos a nós mesmos e o mundo? Com quem podemos transformar?
A resposta não virá imediatamente, e nem é individualizada, mas acreditem, temos inspirações, desde a moça moradora da palafita até a pesquisadora de mangues da importante Universidade. O fundamental é nos juntarmos e avaliarmos criticamente as sociedades que construímos até aqui, e nos movermos na busca de novas escolhas e novas formas de Com-vivermos entre nós humanos, e acima de tudo, em diálogo com os demais seres vivos que coabitam o planeta!
Equipe FunBEA