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A informação é parte de uma pesquisa desenvolvida por Pedro Lusz, do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da Universidade de Brasília (UnB)
“Bom dia Fernanda. Por cá está tudo bem. Depois de uma madrugada gelada, o sol começa a esquentar os ares do Planalto Central e Brasília já está em velocidade acelerada. Já estou em cena, com pelejas divertidas nas questões socioambientais. Quando quiser e puder, conversaremos”.
E foi assim, com ares literários, que minha conversa com Pedro Lusz teve início numa manhã de quinta-feira. Pedro é Mestre em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB) e, em parceria com Saulo Rodrigues Filho e Izabel Cristina Zaneti, escreveu o artigo “Educação Ambiental na Educação do Campo: Jovens, pesquisa ação e mudanças climáticas”.
A pesquisa foi uma das 42 práticas inspiradoras em Educação Climática no Brasil mapeadas pelo Fundo Brasileiro de Educação Ambiental (FunBEA). O objetivo do mapeamento, feito pelas pesquisadoras Raquel Trajber e Patrícia Mie Matsuo, era compreender o estado da arte da Educação Climática hoje no país. A conclusão foi de que o cenário ainda é emergente, incipiente e bastante raro. Buscando conhecer mais dessas 42 iniciativas, conversei com Pedro sobre suas “pelejas divertidas nas questões socioambientais”, pois seu estudo pode (e deve) servir como incentivo e inspiração para a Educação Climática no Brasil.
“No meu nariz!”
– Onde você sente que as mudanças climáticas mexem mais na sua vida? Perguntou Pedro Lusz a seus estudantes do Centro de Educação do Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal (CED PAD/DF).
– No meu nariz! Respondeu uma garota.
A resposta, à primeira vista insolente, é, na realidade, bastante significativa. A crise climática afeta e afetará cada vez mais os territórios e comunidades de formas diversas. Populações rurais sentirão efeitos diferentes daqueles que vivem em meios urbanos, por exemplo. O Distrito Federal, local em que Pedro desenvolveu o seu estudo, possui um nível de vulnerabilidade hídrica intenso, decorrente das mudanças climáticas. E foi neste contexto que o pesquisador resolveu se debruçar sobre as percepções de mudança no território, vinda dos jovens estudantes da educação do campo. A estudante de Pedro, explicou:
– Eu tô o dia inteiro coçando o nariz e de noite sangra porque não tem mais árvores, não tem mais água, não tem mais animais, as flores não crescem. Então, professor, o ar tá pesado. Eu tô tendo dificuldade para conseguir encher os pulmões porque eu acho que tá pesado.
Utilizando a metodologia da pesquisa ação participativa, da observação participante e de análise temática, o pesquisador desenvolveu o estudo que, além de compreender as percepções dos jovens, também busca refletir sobre o seu protagonismo e as contribuições que essa população pode fazer para a capacidade adaptativa do território. Ouvir o outro foi prioridade na pesquisa. “A única maneira – e eu não sou o único a falar disso – que nós temos de articular grandes desenhos para estudos e ações dentro das mudanças climáticas, com o objetivo de mitigar um pouco esse impacto e criar capacidades adaptativas, é incluirmos os saberes locais e das pequenas comunidades nos estudos acadêmicos”, explica.
A urdidura de saberes
Quarenta jovens, com idades entre treze e dezessete anos, participaram do estudo, que foi dividido em quatro ciclos. O primeiro foi dedicado ao aprofundamento teórico em mudanças climáticas, educação do campo e educação ambiental. O segundo ciclo foi focado em conversas com os participantes, coordenação e direção da escola. No terceiro ciclo, foram realizadas as intervenções, atividades e diálogos a partir da problematização das urgências socioambientais e climáticas. O ciclo final compreendeu o compartilhamento dos resultados e dados colhidos pelo estudo.
A conclusão foi que os jovens percebem os sinais da crise climática a partir de mudanças na chuva e no ar nos últimos anos. Com esta percepção, surgem também os sentimentos de angústia e apreensão com a ameaça de intensificação da vulnerabilidade do seu território.
O pesquisador problematizou esse cenário e criou uma proposta de intervenção, como recurso para a capacidade adaptativa da comunidade aos impactos das mudanças climáticas. O eixo central para guiar essa proposta, escolhido pelos estudantes, foi a prática de Educação Ambiental. “Tem gente no mato gemendo e dizendo ‘ tem que seguir por esse caminho porque aqui vai resolver’. Eu acho que o núcleo rural não só pode contribuir, como eu acredito que esse é o ponto crucial dessa contribuição. Por isso eu trabalho com essa urdidura de saberes”, finaliza Pedro.
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Urdidura. Ação ou efeito de urdir, de tecer usando fios entrelaçados.
Educação Ambiental e Crise Climática
O mapeamento, que classificou a pesquisa de Pedro como uma iniciativa inspiradora, faz parte do projeto “Educação Ambiental e Emergência Climática”, lançado pelo Fundo Brasileiro de Educação Ambiental (FunBEA), em parceria com o Instituto Clima e Sociedade (ICS), Cemaden Educação e a Rede Comuá, em junho deste ano. Um dos objetivos do projeto era construir, a partir dessa pesquisa inicial, diretrizes para orientar ações de educação para enfrentamento da crise climática no Brasil, além da contribuição com a estruturação de um Programa Nacional de Educação Ambiental em Emergência Climática. Até o dia 23 de julho, estas diretrizes estarão disponíveis para consulta pública de toda a sociedade civil que se relacione com o tema. Depois da consulta, as diretrizes serão entregues para o Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas e para o Departamento de Educação Ambiental Federal (DEA) no intuito de orientar as políticas públicas para o enfrentamento da crise climática no Brasil.
Para conhecer mais do projeto e participar da consulta pública, acesse o link aqui.
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