A pesquisa “Filantropia Comunitária e Educação Ambiental: análise do tema “Quanto vale?” (2022) no Litoral Norte de São Paulo” fez parte do Programa Rede Conhecimento do Comuá.
A Rede Comuá é um espaço, no Brasil, que reúne fundos temáticos, comunitários e fundações comunitárias, organizações doadoras (donatários) independentes, que mobilizam recursos de diversas fontes para apoiar grupos, coletivos, movimentos e organizações da sociedade civil que atuam nos campos de justiça socioambiental, direitos humanos e desenvolvimento comunitário.
O Programa Conhecimento em Rede do Comuá incentiva a produção de conhecimento que sistematize práticas de filantropia comunitária e de justiça socioambiental, demonstrando seu poder de promover a transformação social.
Você quer saber mais? Basta acessar:
https://redecomua.org.br/
https://redecomua.org.br/hub-transforma/
A pesquisa relacionada ao FunBEA foi realizada pela pesquisadora Larissa Ferreira, sob coordenação do FunBEA, e teve como principais objetivos:
– Investigar e sistematizar as estratégias que foram adotadas pela FunBEA ao longo do planejamento e estruturação do programa “Quanto vale?” campanha.
– Investigar experiências internacionais e nacionais sobre círculos de doação.
Principais resultados da pesquisa
Experiências de círculos de doações internacionais
A maioria dos estudos/materiais sobre círculos de doação vem de experiências norte-americanas e de países asiáticos e europeus. Dos vinte e seis materiais analisados, apenas um abordou a experiência de um país latino-americano, neste caso, o Brasil.
O tema dos círculos de doação carece de estudos em outros idiomas além do inglês e dos círculos de doação que não fazem parte de redes globais.
Experiências internacionais de rodas de doação indicam que quem recebe recursos são organizações e instituições formalizadas, sem menção ao apoio a grupos não formalizados, como coletivos, associações e movimentos sociais.
Em geral, os materiais analisados sobre as experiências internacionais de círculos de doação centram-se na perspectiva dos doadores e nas características e modelos de funcionamento dos círculos de doação. As discussões não parecem colocar em foco o quanto as ações desses círculos estão comprometidas com a justiça socioambiental e a garantia de direitos.
Embora timidamente, as conclusões apontam para como os círculos de doações podem contribuir para democratizar a filantropia e rejeitar o poder da filantropia tradicional.
Experiências brasileiras de círculos de doação
Não existe um conceito único para definir o que são rodas de doação no Brasil, as experiências são recentes e estão em fase de experimentação.
Ao contrário das experiências internacionais em que, na sua maioria, os doadores se reúnem para apoiar uma causa, os círculos de doações são promovidos por uma organização.
As organizações que têm o papel de estruturar e liderar círculos de doação percebem que suas ações precisam garantir os recursos necessários ao funcionamento do círculo, investir no desenvolvimento institucional das iniciativas/organizações que apoiam, ter consciência do seu papel estratégico no campo da filantropia e manter comunicação constante das ações realizadas e dos resultados alcançados.
Os principais aspectos das rodas de doação que estão sendo pesquisados são: características gerais e em diferentes países; influência do círculo de doação no comportamento, nas atitudes e no conhecimento dos seus membros; estudo de caso de círculos de doação; dar modelos/estrutura do círculo; impacto dos círculos de doações no cenário filantrópico; relação entre círculos de doação e organizações anfitriãs; e como e por que estabelecer um círculo de doações.
A experiência da FunBEA com a campanha “Quanto vale?” (2022)
A experiência da FunBEA com planejamento e estruturação do programa “Quanto vale?” (2022) destaca o desafio de mobilizar e doar recursos financeiros no Brasil, principalmente para apoiar causas socioambientais. Os potenciais doadores tendem a fazer doações com mais facilidade em contextos de emergência e de assistência social.
Estratégias de relacionamento com grupos apoiados no programa “Quanto vale?” campanha promoveu autonomia no uso de recursos e melhorias internas (área de comunicação; maturidade, visibilidade e chamando a atenção para a busca contínua por outras modalidades de financiamento). Além de fortalecer a identidade dos coletivos, respeitando as características de cada um.
No relacionamento da FunBEA com os coletivos apoiados pelo programa “Quanto vale?” campanha havia valores que são comuns na Filantropia Comunitária e na Educação Ambiental como: Confiança; Reciprocidade; Responsabilidade; Solidariedade; Transparência.
O envolvimento da FunBEA na Comunidade de Aprendizagem com outros dois fundos que fazem parte da Rede Comuá, nomeadamente o ICOM e o Tabôa, possibilitou a troca de experiências entre pares, reflexões coletivas sobre experiências no campo, reflexões coletivas sobre experiências no campo da filantropia comunitária e o fortalecimento do vínculo entre fundos que atuam em favor da justiça socioambiental e da defesa de direitos.
Ficou evidente que a estratégia de construção de uma Comunidade de Aprendizagem é poderosa no enfrentamento dos diversos desafios, e que pode trazer consequências para relacionamentos mais duradouros, como uma Aliança entre fundos. Isso aconteceu de fato no período pós-campanha, em que FunBEA, ICOM, Tabôa e outros fundos que fazem parte da Rede Comuá, se uniram para formar a Aliança Territorial.
A experiência da FunBEA com o “Quanto vale?” A campanha, na perspectiva dos doadores, não abordou um círculo de doações nos conceitos teóricos internacionais. Porém, do ponto de vista das doações, sim, porque se consolidou como uma campanha de doações e uma das maiores contribuições do FunBEA para o campo da filantropia comunitária foi o relacionamento estabelecido com os coletivos ao conseguir reconhecer e apoiar grupos não formalizados/ coletivos que lutam por justiça socioambiental no Litoral Norte de São Paulo e reforçam a importância de democratizar o acesso aos recursos.
Resultados da Campanha no fortalecimento dos coletivos no território:
Para o Coletivo Caiçara, as maiores transformações foram possibilitar formação política a integrantes e parceiros do Coletivo Caiçara e ampliar sua política fundiária de autorreconhecimento e autodemarcação do Território Caiçara.
Para o Escambau os resultados positivos foram no sentido de ampliar e fortalecer o coletivo; Fortalecimento e entrega das economias locais e criativas por meio de parceria com produtores locais, pousadas e artistas; Realização da programação integrada da mostra: as rodas de conversa e os escritórios contaram com uma ampla rede de parcerias que entenderam a urgência e a oportunidade de promoção sobre a emergência climática.
“A campanha depositar na gente uma confiança de que a gente é capaz de se comprometer com algo e executar algo que a gente se comprometeu, essa confiança foi a nossa palavra de honra ali, confiaram na gente para fazer isso, e na mão dupla, a mesma coisa, confiamos no FunBEA. Não teria como acontecer se não tivesse tido confiança, isso é uma diferença de outras formas de financiamento.” – Leila do Escambau Cultura.
Captação de recursos
Em relação à captação de recursos, nos EUA, cerca de metade dos círculos de doação recebem financiamento externo, tais como, de doadoras(es) indivíduos que não são membros do grupo, fundações ou corporações, organizações anfitriãs e outras fontes, incluindo empresas locais e doações memoriais (BEARMAN et al., 2016).
Objeto de estudo: identificar estratégias que podem contribuir com o crescimento do campo dos Giving Circles no Brasil.
Além da participação em eventos, da publicação de textos e artigos, um dos resultados do estudo foi a produção de um programa podcast que aborda as experiências dos três coletivos apoiados em 2022/23, construído a partir dos diálogos e reflexões feitas por eles e a equipe do FunBEA.
“Diálogos no Território” pode ser ouvido em diferentes plataformas!
Acesse também o relatório da pesquisa