Em 2024 o FunBEA lançou uma chamada pública para realizar um estudo sobre desenvolvimento institucional (DI) de organizações socioambientais da sociedade civil. A pesquisa procura mapear este universo, identificando os desafios experienciados por estas organizações, mas também suas potencialidades. Essa investigação está agora em andamento, e este texto conta um pouco do que tem sido feito até agora e os resultados da primeira etapa, de caráter mais quantitativo.

O FunBEA é uma organização que realiza apoio financeiro e formador para fortalecer coletivos, movimentos e organizações da sociedade civil que atuam na proteção ao meio ambiente e por justiça social climática. Trabalha com base na filantropia comunitária, com o propósito de mobilizar recursos para comunidades e territórios que dificilmente acessam fontes governamentais, privadas e/ou internacionais.

Compreender o universo das entidades socioambientais, sobretudo aquelas localizadas nas periferias e territórios tradicionais, é uma das principais preocupações do FunBEA. A produção desse conhecimento é essencial para direcionar o apoio de forma mais estratégica e eficaz. Quando se entende melhor o que essas organizações necessitam, é possível alocar recursos de maneira mais acessível e bem direcionada, alinhando-se à nossa proposta de “Conhecer para Apoiar”.

Se aproximarmos a lente, o foco da pesquisa é investigar o desenvolvimento institucional dessas entidades, qual a sua dinâmica organizacional para dentro e para fora. No entanto, nosso primeiro passo foi realizar um mapeamento mais geral do universo das entidades civis do campo socioambiental, fazendo uma varredura das informações disponíveis em bases públicas e reconhecendo aquelas das quais poderíamos extrair algo mais sólido. É mais sobre esta parte que vamos nos concentrar hoje. E encontramos coisas muito interessantes!

Embora exista uma quantidade razoável de dados sobre a sociedade civil organizada no Brasil, a informação sobre temas específicos de atuação das OSCs ainda é algo difícil de encontrar. Entidades como Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE), a Rede Comuá, a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (ABONG) e o Instituto BEJA publicam estudos relevantes sobre Organizações da Sociedade Civil (OSCs), mas o tema socioambiental aparece como mais um em meio aos demais. Análises voltadas exclusivamente para o campo socioambiental são limitadas.

No entanto, o crescente reconhecimento da importância da questão socioambiental reflete a relevância crescente desse tema no cenário de impacto social. A publicação “Perspectivas para a Filantropia no Brasil 2024″, do IDIS, indica que “a questão climática é cada vez mais transversal e diz respeito a organizações de todos os setores e tamanhos” (p. 15).

Um dos desafios de nossa pesquisa foi encontrar uma base de dados que se concentrasse especificamente no setor socioambiental. Nesse sentido, a pesquisa FASFIL (Fundações e Associações Sem Fins Lucrativos), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem sido uma fonte valiosa. Esse estudo fornece um mapeamento geral das Fundações e Associações Sem Fins Lucrativos e realiza recortes temáticos, permitindo isolarmos dados do campo ambiental para uma análise mais aprofundada. Além disso, o Mapa das OSCs, desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA) com base nos dados do IBGE, é uma ferramenta útil por apresentar essas informações de forma acessível e visual. Por conta disso, esses dados do IBGE têm sido uma fonte de interlocução muito importante para nós.

Mas nosso principal recurso nesta primeira etapa foi o Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas (CNEA), instituído pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) em 1989. O CNEA foi criado para formar um banco de dados público com registros de organizações ambientalistas cuja principal missão é a defesa do meio ambiente. Criado durante a redemocratização do Brasil, o CNEA exerce duas funções principais: manter um registro das entidades ambientalistas atuantes no Brasil e viabilizar a participação social na formulação de políticas ambientais através de cadeiras do CONAMA. Embora a função de participação política dessas entidades no CONAMA tenha mudado nos últimos anos, o CNEA ainda oferece um repositório valioso de informações sobre essas organizações.

Para nossa pesquisa, o CNEA foi especialmente relevante, pois é uma plataforma pública que agrega informações sobre entidades voltadas para o setor socioambiental. Dada a dificuldade em acessar outras bases de dados centradas em OSCs da área ambiental, o CNEA se mostrou uma boa opção investigativa. Mesmo que este cadastro esteja desatualizado e desta forma não possa ser tomado como um retrato fiel deste universo, ele ainda fornece uma perspectiva abrangente das organizações ambientalistas do Brasil.

Usando linguagem de programação, realizamos uma raspagem de dados no CNEA para identificar o número de entidades cadastradas e as informações disponíveis sobre elas. Esse levantamento inicial foi útil para entendermos o perfil e a abrangência dessas entidades. Além disso, uma das informações disponibilizadas na plataforma é o site de cada entidade, que contém informações valiosas para caracterizá-las. A partir destes sites, identificamos quatro elementos essenciais para serem extraídos: demonstrações financeiras, relatórios de atividades, organogramas e relações institucionais. Juntos, esses elementos fornecem uma visão detalhada das OSCs cadastradas no sistema e contribuem para nossa análise sobre o universo da sociedade civil organizada pela causa climática e ambiental.

As próximas etapas

A pesquisa conduzida pelo FunBEA no CNEA já revela dados valiosos sobre as entidades ambientalistas no Brasil e sua organização institucional, assim como sobre suas relações e características financeiras. A partir da etapa inicial, voltada para uma análise ampla, percebemos já alguns padrões que ilustram tanto as potencialidades quanto às lacunas do desenvolvimento institucional dessas organizações.

Os achados quantitativos trazem à tona aspectos centrais e oferecem hipóteses preliminares, que ainda serão enriquecidas com dados qualitativos. Essas leituras poderão ser endossadas ou recusadas a partir de uma análise qualitativa, mais direta e pessoalizada.

Com isso em mente, realizamos também a aplicação do nosso questionário, “Conhecer para Apoiar”, visando um contato mais próximo com as entidades do setor. A análise destes dados está fornecendo maior profundidade ao estudo, nos permitindo entender melhor o cotidiano institucional dessas organizações, bem como as estratégias e dificuldades que enfrentam na prática. Acrescidas das entrevistas em profundidade que realizamos, este conjunto de informações servirá para embasar formas de apoio mais eficazes e alinhadas com as necessidades da sociedade civil organizada para as causas ambiental e climática!

  – Pesquisa realizada por Igor Carvalho