Salvar a economia ou o planeta?

Representantes do FunBEA estiveram em ambos os eventos, neste último mês de novembro. O  G20-  “Grupo dos 20”, que reuniu 19 países mais União Africana e União Europeia no Rio de Janeiro;  e a COP29 – a conferência do clima das Nações Unidas, que ocorreu em Baku, no Azerbaijão, e que reuniu mais de 200 países para falarem sobre o futuro do planeta. 

Porém, ambos eventos que tinham as discussões econômicas em sua  centralidade, deixaram no ar a dúvida: o que realmente importa nesse  cenário apocalíptico da emergência climática? 

Do G20 saíram as declarações dos líderes consensuados por todos os países integrantes:  Fim de conflitos armados, com todas os participantes do G20 declarando a convivência pacífica entre o Estado da Palestina e o Estado de Israel; Taxação dos Super-ricos; Compromisso com o enfrentamento das mudanças climáticas, que reforçam as diretrizes do Acordo de Paris, limitando o aumento da temperatura para menos de 2°C. O Consenso também abrangeu as emissões líquidas dos gases do efeito estufa. A expectativa do grupo é que até 2050 esse poluente não seja mais usado pelos países integrantes do G20. Também foi apresentada uma meta para o fim da poluição plástica até o final deste ano. Para o financiamento, o grupo se comprometeu em promover e incentivar investimentos públicos e privados para Soluções Baseadas em Natureza; Combate a fome a pobreza do planeta; Saúde universal, firmando o compromisso da saúde humana e da natureza e reconhecendo o potencial da medicina de práticas tradicionais; Igualdade de gênero; Reforma da Governança Global, os líderes destacaram que o modelo atual de governança não representa o mundo do século XXI, e que é necessária uma reforma para torná-la mais significativa, representativa, transparente e efetiva; E por fim, a tecnologia, com o compromisso dos governos de exigir mais transparência e responsabilizar as grandes plataformas para que se adequem aos parâmetros do desenvolvimento sustentável e saudável de uma nova era. Também se reconheceu a importância da inteligência artificial, e a cautela com uma regulamentação que monitore e controle o uso da tecnologia nas cadeias econômicas. 

A secretária geral do FunBEA, Semíramis Biasoli que esteve em diferentes fóruns do evento, entre eles o G20 Social e a cúpula dos povos, destaca que é cada vez mais claro a importância do protagonismo dos movimentos e organizações de base na tessitura das soluções locais para todos os desafios discutidos. “Mas sabemos que para isso é necessário financiamento para a base. Quando se fala em “soluções baseada na natureza” temos exemplos concretos de comunidades que além de promover a proteção de ecossistemas, também estão promovendo prosperidade econômica para seus territórios”. Como é o caso da Rapecca- Rede de Agroecologia, Pesca e Cultura de Caraguatatuba, no Litoral Norte de São Paulo, que conta com o apoio do FunBEA. O coletivo reúne produtores agroecológicos, consumidores e militantes da agroecologia. Além de sensibilizar, promover formações sociais e agroecológicas, o coletivo também vende produtos medicinais e alimentícios e fortalece a economia circular verde local. “Esse é um de milhares de exemplos de práticas que já acontecem nos territórios e que permanecem inviabilizadas e sem acesso aos recursos da agenda climática”.

Já na COP 29, quem esteve representando o FunBEA, foi a conselheira Mahryan Sampaio, que é também Embaixadora da Juventude na ONU e diretora da organização Perifa Sustentável. Esse que seria o encontro climático do financiamento acabou encerrando com um clima de “fracasso” no ar. “A antiga meta de USD 100 bilhões foi um compromisso quebrado pelos países do Norte Global, que historicamente são os maiores responsáveis pela crise climática. Agora, os países hesitam em assumir a responsabilidade de prover ao menos USD 1,3 trilhão por ano — um valor mínimo necessário para ajudar os países do Sul Global a se adaptar, mitigar impactos e proteger vidas nos territórios”, ressalta Mahryan.

foto da Mahryan Sampaio – Arquivo Mídias sociais

O encontro fechou com uma meta financeira de investimento de US$300 bilhões até 2035 para ajudar os países em desenvolvimento a lidarem com os impactos das mudanças climáticas. Esse recurso será ainda uma mistura de dinheiro público e privado, destinados a nações vulneráveis ​​e mais pobres que precisam lidar com a desigualdade socioeconômica e ainda fazer a transição de suas economias para energia limpa.

Porém, os estudos em diversas áreas apontam que essas nações precisariam de no mínimo US$ 1,3 trilhão (R$ 7,5 trilhões) para conseguirem atingir as metas de enfrentamento da crise civilizatória e climática que todo o planeta vive. 

Durante o G20, o Presidente Lula, destacou que a COP 30, que será realizada em Belém do Pará no próximo ano, será a grande oportunidade de virada para reverter as piores consequências das mudanças climáticas no mundo. “A COP 30, será uma oportunidade única de colocar o Sul Global no centro da ação climática, destacando a importância da Amazônia, dos biomas e das comunidades que vivem e protegem os territórios.”

Assista o relato que Mahryan fez em parceria com FunBEA e o veículo Clímax Now para as redes direto da COP 29 aqui!

Papel dos Fundos Independentes nesse cenário: 

O FunBEA, assim como outros fundos independentes que atuam no Sul Global tem uma missão de extrema importância, que é a descentralização dos recursos para comunidades de base. Eles fazem o mapeamento de movimentos, coletivos e organizações territoriais, bem como de lideranças comunitárias e jovens que estão na ponta, engajando e organizando a sociedade para caminhos mais sustentáveis e justos. “Além da descentralização do recurso, os fundos independentes, como o FunBEA, fazem os apoios indiretos, que são capacitações, mentorias, assistências técnicas e  monitoramento desses grupos. O objetivo é reconhecer sua força, contribuir com sua independência e sustentabilidade, inclusive na perspectiva econômica”. 

Também estiveram participando dos fóruns do G20 Social, representantes de territórios que recebem o apoio do FunBEA, como a liderança comunitária, Sara Regina Cordeiro, moradora da Vila Sahy, no Litoral Norte do SP, comunidade diretamente atingida por um desastre socioambiental em fevereiro de 2023. Sara, que que também é integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), esteve na mesa que discutiu a regularização fundiária no Brasil.  A mesa discutiu a responsabilidade dos países mais ricos, mas também pessoas – na produção de gases de efeito estufa. Pesquisa da instituição britânica Oxfam aponta que, em 90 minutos, um bilionário produz a quantidade de gás carbônico que uma pessoa “normal” levaria uma vida inteira para produzir. “Mas quem acaba pagando o preço são as populações mais vulneráveis, que menos contribuem. Famílias que vivem em áreas de risco, que não contam com indenizações, nem suporte psicológico, que estão à sua própria sorte”, afirma Sara. 

Sara Regina – Foto arquivo G20