A sociobiodiversidade que mantém a floresta em pé!
“A cultura amazônica é um manguezal cultural de si mesma e do mundo”. A frase é de autoria de Paes Loureiro, escritor, poeta e professor universitário brasileiro. Pensar a maior floresta tropical do mundo como qualquer outra coisa que não um “manguezal cultural”, é negar uma sociobiodiversidade que mantém de pé a floresta e vivos os seus povos e culturas. Um território que foi construído por seres humanos e não humanos durante milhares de anos, não pode ser nada menos do que um local fértil para todos os sentidos da vida. No entanto, expandir essa compreensão de uma Amazônia plural e cultural, ainda é um dos principais desafios a serem enfrentados por quem luta pelo território. É por essa razão que o incentivo e o fortalecimento dos diferentes movimentos e organizações locais se torna uma das ferramentas aliadas à defesa da Amazônia.
Sara Pereira é coordenadora do Programa Amazônia da FASE, uma organização não governamental sem fins lucrativos, que atua em seis estados brasileiros com questões relacionadas ao desenvolvimento local, comunitário e associativo desde 1961. A organização é presente na região do Baixo Tocantins, no Pará, há mais de vinte anos e em 2024 iniciou um novo projeto: o fortalecimento e transformação do Centro de Treinamento e Tecnologias Alternativas TIPITI, na região norte do Brasil.
Aprovado junto ao Edital do Fundo Nacional do Meio Ambiente, essa é uma iniciativa do governo federal, através do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, que se propõe a criar Centros de Educação e Cooperação Socioambiental em todo o país. Nesta edição, foram contemplados cinco centros, um em cada região do Brasil. Destes, quatro ainda serão criados e o quinto, o da região norte, fortalecido. “No nosso caso, esse centro [Tipiti] já existia desde a década de 80. Ele foi uma iniciativa das próprias comunidades da região do baixo Tocantins, que criaram esse centro como uma proposta de experimentar alternativas tecnológicas para melhorar a produção, mas também para ser um espaço de articulação e de mobilização das comunidades”, explica Sara.
De acordo com a coordenadora, o objetivo desse projeto com o centro TIPITI é fortalecer uma iniciativa já existente e colocar no centro do debate dos movimentos e das organizações comunitárias, a perspectiva da Educação Ambiental a partir do olhar dos próprios territórios. “Esse projeto de Educação Ambiental que tem como centro da nossa ação o TIPITI, é ancorado primeiro, numa estratégia de mobilização comunitária de fortalecimento das lutas da região, tendo um olhar para a educação ambiental (EA) nesse diálogo concreto com a realidade da região. Pensando a EA não apenas como um tema transversal, mas como uma realidade concreta da vida das pessoas”, defende a coordenadora.
O fortalecimento e defesa do território amazônico, dos seus povos e culturas encontra na Educação Ambiental uma grande aliada. Por essa razão, o FunBEA vem construindo uma parceria com a FASE para atuar nessa região e somar às suas defensoras e defensores. Sara Pereira coloca que é necessário “entender a Amazônia como muito mais do que floresta. Dentro desses ecossistemas estão as pessoas, estão os povos que vivem nessa região e que precisam ter suas dimensões valorizadas, com garantia dos seus direitos territoriais, sociais e acesso à políticas públicas para que tenham vida digna”. É manter vivo o manguezal cultural de Paes Loureiro.